Documentário quer trocar foto da Playboy que gerou o formato JPEG

Em 1973, engenheiros da University of Southern California Signal and Image Processing Institute (SIPI) buscavam uma imagem que pudesse servir de modelo para testes em um estudo de processamento de imagens a cores em alta resolução. A equipe estava cansada de utilizar sempre as mesmas fotografias, que já estavam há vários anos em uso. A solução, por mais absurdo que pareça, veio da Playboy.

Algum membro do grupo de pesquisa estava com a edição de novembro de 1972 na mochila e, na revista, havia um ensaio de uma jovem modelo sueca chamada Lena Söderberg. A foto, se cortada logo abaixo dos ombros da modelo, ficava “segura” para uso e foi considerada perfeita por apresentar aspectos técnicos de contraste, uso de cor e detalhes visuais, incluindo as diferentes texturas e o formato do rosto humano. Além disso, os estudantes e pesquisadores ficaram hipnotizados com a beleza da jovem.

Sem saber, Lena tranformou-se na “primeira-dama da internet”: a sua imagem virou o padrão de testes de algoritmos que fazem digitalização, compressão, modificação de formato em todo o mundo e a foto virou uma das mais famosas na indústria da tecnologia. Também indiretamente, ela até ajudou a criar o formato JPEG — saiba mais sobre isso neste artigo.

Substituição na marra

Quase cinquenta anos após a popularização da imagem, a tradição pode estar com os dias contados. Ao menos se depender da campanha “Losing Lena”, que se transformou em um documentário de 25 minutos de duração que estreou com exclusividade no Facebook Watch. Ele foi produzido pelo Code Like a Girl em parceria com a Creatable.

“Losing Lena” mostra a vida da modelo atualmente, hoje avó e aposentada da carreira de modelo — sem arrependimentos pelo ensaio, mas surpresa com a repercussão que a foto tomou. Só que a produção não é apenas sobre ela: é sobre o significado da imagem e como a sua utilização em massa, principalmente pelo seu caráter erótico, pode prejudicar a entrada de mulheres no mercado da tecnologia.

Afinal, como diz o documentário, as poucas estudantes, engenheiras e programadoras encontradas em empresas e universidades acabam se sentindo desvalorizadas e desestimuladas nos ambientes de pesquisa, que evoca questões de gênero, diversidade e inclusão na tecnologia pela simples utilização da foto.

Segundo a produção, trocar a foto de Lena como padrão de testes com imagens digitalizadas não é quebrar uma tradição, mas sim questionar um padrão da indústria e contribuir para a quebra de paradigmas do setor, já que qualquer outra foto pode ser utilizada atualmente como teste. Alguns periódicos acadêmicos já não aceitam mais artigos que usam a foto como exemplo — e a campanha deve contribuir ainda mais para que a modelo seja aposentada também da sua carreira de musa virtual.

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